Ser vegano é ‘maravilhoso’, diz neurocientista que trabalha com Stephen Hawking
Parceiro de Stephen Hawking no desenvolvimento de uma plataforma de comunicação baseada em impulsos cerebrais, o neurocientista austro-canadense Philip Low, 35, diz que adotou o estilo de vida vegano –depois de 20 anos de vegetarianismo– depois de refletir sobre os problemas causados pela produção de ovos e de leite.
“O que aconteceu foi que se mostrou para mim o fato de que a indústria de ovos e de laticínios causa sofrimento e dor tremendos em animais, além de realmente descartá-los”, disse Low ao “Veg”.
Low, que é pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), da Universidade de Chicago e do Instituto Salk de Estudos Biológicos, na Califórnia, esteve no Brasil durante a primeira semana deste mês para participar do 3º Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal.
Durante o evento, foi assinada a chamada Declaração de Curitiba, espécie de análogo à Declaração de Cambridge, de 2012. Ela diz basicamente que “animais não humanos não são objetos” e que, como donos de senciência (capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade) não devem ser tratados como coisas.
Foi depois de firmar tal documento, na Inglaterra, que Low fez a mudança para o veganismo. “Como um cientista que trabalhou com aves, entendo a complexidade de seus cérebros, e eu as respeito.”
“Nos EUA, 200 milhões de galos são descartados em máquinas trituradoras todo ano, o que é completamente bárbaro e criminoso. Decidi que não quero dar meu dinheiro a essas pessoas.”
ESCOLHA
Low diz que perdeu 13 kg desde que adotou a dieta livre de ingredientes de origem animal. “O que foi bom para mim, porque estava um pouco acima do peso”, ri.
“Agora estou mais saudável do que fui em toda a minha vida: aguento correr durante muito mais tempo, tenho mais energia. Não esperava isso, achava que ia me sentir fraco.” Sobre cuidados especiais em relação à nutrição, afirma que apenas controla a ingestão de vitamina B12, que não é encontrada em vegetais.
“No geral, é uma coisa maravilhosa. Gostaria de ter tomado essa decisão antes.”
Low diz que vê cada vez mais cientistas vegetarianos, mas não acredita que seja em proporção superior ao aumento da proporção de pessoas no geral que abandona os ingredientes animais.
“O que vejo é que há cada vez mais estudos que mostram benefícios para a saúde de uma dieta baseada em vegetais. E cientistas respondem muito bem a dados. Não ficaria surpreso ao ver mais cientistas escolhendo se tornar vegetarianos, talvez não pela questão ética, mas sim por sua própria saúde, num estilo de vida vegano.”
CONSCIÊNCIA
Low faz parte de um grupo de cientistas que determina que é “improvável” que grande parte dos animais careçam de consciência, já que seus cérebros têm estrutura muito semelhante à dos humanos.
“Consciência é algo que permite que sintamos prazer e dor, o que é importante para, por exemplo, um indivíduo encontrar um ambiente salubre, ou dizer se ele representa uma ameaça.”
“É algo que, na evolução, pode ter sido bastante importante para a sobrevivência de uma espécie. Seria injusto presumir que animais não são conscientes, como dizia [René] Descartes”, diz, sobre o matemático e filósofo francês.
Descartes estudou a glândula pineal, estrutura do cérebro que ele dizia ser algo como um “terceiro olho” humano, responsável pela consciência, e que estaria ausente em outras espécies. “Houve aí uma contradição, já que ela é bastante preservada em diversos outros animais.”
TESTES EM ANIMAIS
Questionado, Low diz que, se tivesse de escolher, faria testes laboratoriais em um animal comprovadamente carente de consciência. “Preferiria trabalhar com uma mosca, que tem maior probabilidade de não ser consciente, do que em um macaco.”
“Mas há um problema, já que o macaco é muito mais próximo de um ser humano [o que tornaria um eventual teste mais significante].”
“A maneira que responderia a essa questão é que prefiro não usar qualquer animal. No meu trabalho, não uso animais, mas sim com humanos.”
Existem maneiras computacionais e matemáticas de testar substâncias, diz Low. “Podemos fazer isso matematicamente, sem causar dor a qualquer animal.”
Atualização: Low diz que, em vez de 21 milhões de galinhas, como na versão original do texto, 200 milhões de galos são descartados por ano nos EUA.