‘Veganos deveriam abrir exceção para ostras’, diz colunista; veja argumentos

Yuri Gonzaga

Christopher Cox, editor-sênior da revista de literatura e política “Harper’s Magazine”, dos EUA, se diz “um vegano, contudo um que aprecia ostras finas.” Ele conta que “faz tudo o que os veganos fazem”, salvo comer esses moluscos. E tenta explicar.

“Não me deveria classificar como vegano. Não sou sequer vegetariano. Sou pescetariano, ou flexitariano –talvez haja uma palavra ainda mais constrangedora para descrever minha dieta”, resmunga.

Ele menciona que há duas razões –entre “dúzias” outras que considera válidas– que o levaram a tornar-se quasi-vegano: a pecuária destrói o planeta e causa sofrimento de animais. (Em consonância com boa parte dos adeptos da dieta que conheço.)

Foto: Mark Skipper/Flickr/Creative Commons
Foto: Mark Skipper/Flickr/Creative Commons

Nesse sentido, cita um artigo da University of Southern California em que é argumentado que a aquacultura desses animais –muito nutritivos, com alto teor de proteína, ômega-3, iodo, cálcio, fósforo– poderia até salvar o planeta da fome ao que a população escalona para os projetados 9 bilhões de habitantes até 2050.

Fora isso, continua Cox, a criação dos moluscos tem “mínimo impacto ambiental” e chega a ser um método para melhorar a qualidade da água em que são desenvolvidos.

No segundo ponto, o da dor, ele afirma que as ostras –carentes de cérebro– não têm sistema nervoso desenvolvido suficiente para serem consideradas sencientes (capazes de sofrer, sentir prazer ou felicidade, na definição do ativista vegano Peter Singer). Chega a dizer que “eticamente, as ostras pertencem à mesma categoria que as plantas, no nosso [científico e atual] entender.”

Diz: “Quanto me tornei um vegano, não pus um X em tudo o que está sob o guardachuva do reino animalia. E quando escolho meu jantar, não me questiono sobre o que devo fazer para continuar vegano. Em vez disso, me pergunto: ‘o que é a coisa certa a fazer?’.”

PONTOS DE VISTA

A psicóloga evolucionista e blogueira vegana Diana Fleischman, do Reino Unido, também escreve em um artigo (posterior ao de Cox, que foi publicado originalmente em 2010 e voltou à tona recentemente nas redes sociais) que “não há uma boa razão ética para não comer ostras e outros moluscos bivalvulados”, ainda que faça ressalvas sobre a possibilidade de a aquacultura causar a morte de outros animais –o que também é verdade para a agricultura, ainda mais no modelo de monocultura de soja, milho, cana etc.

Hoje, se considera “bivalvegana”.

Ela menciona a opinião contrária de David Pearce, filósofo também vegano (rigoroso), que levanta a possibilidade de o sistema nervoso rudimentar das ostras ser capaz de produzir sensação de “dor fenomenal”.

Comentaristas da web apontam para o fato de ostras se mexerem (outro vídeo, este um tanto repugnante), em especial quando expostas ao limão que pode ser usado para temperá-las (a ideia de consumir ostras é que estejam vivas, pelo jeito).

Eu não tenho uma opinião formada sobre isso, ao menos por enquanto. Consultei dois especialistas, uma em moluscos e outro em aquacultura de ostras, que ficaram de me dar uma resposta nesta semana (fique ligado).

Quiçá então poderei formular um ponto de vista mais sólido (conspira a meu favor o fato de eu nunca ter gostado de frutos do mar e sequer ter provado na vida tais criaturas, raros na culinária brasileira, ao menos aos meus olhos).

O próprio Peter Singer, consultado por Cox para o texto, disse que “foi e voltou ao longo dos anos acerca desse assunto.” “Talvez haja um pouquinho mais de dúvida sobre as chances de uma ostra sofrer –em comparação com plantas– mas vejo isso como extremamente improvável.”

“Você poderia dá-las o benefício da dúvida, poderia também dizer que até que apareça alguma evidência de que a capacidade de experimentar dor, mas não há muita razão para evitar comer ostras sustentavelmente produzidas”, finaliza Singer.

E você, leitor, comeria (já comeu, come) ostras?