Depoimento: Almoço em churrascaria faz onívoro cogitar vegetarianismo
Yuri Gonzaga
Este é um texto colaborativo feito por Alexandre Orrico*, jornalista da Folha que não é vegetariano e que, depois de muito tempo, voltou a um rodízio de carnes neste domingo (3).
Fui surpreendido pela iniciativa, que é dele, de escrever sobre a problemática do desperdício de alimentos.
Tendo em vista que, se existe um problema ético-ambiental em desperdiçar qualquer tipo de alimento, jogar fora algum que tenha custado muito mais para o planeta é mais grave ainda.
Uma pessoal e preciosa reflexão:
“Coma tudo o que conseguir aguentar.”
Eu não ia em um rodízio de churrascaria há muitos anos. Na entrada, a plaquinha com os dizeres acima me lembrou parte do motivo.
Sempre achei curioso como nesses locais a comida é tratada como algo a ser vencido. Saciar a fome é totalmente secundário; importante mesmo é bolar uma tática para engolir grandes quantidades de carne e ignorar o cérebro quando ele tentar mandar você parar.
A modalidade é, claro, um dos grandes vilões do desperdício. No Brasil, segundo dados da Embrapa, 26,3 milhões de toneladas de alimentos são jogadas no lixo todo ano. Em bufês, a comida que é deixada no prato chega a 20%.
Todos os dias desperdiçamos no país o equivalente a 39 mil toneladas por dia, quantidade suficiente para alimentar 19 milhões de brasileiros, com as três refeições básicas: café da manhã, almoço e jantar.
E os números calculam “apenas” o que vai para o lixo. Ninguém conta o quanto de comida foi consumida desnecessariamente que não tem fins nutritivos –muito pelo contrário, pode causar diversos males à saúde e sobrecarrega o organismo. Na prática, é mais desperdício.
Na mesa ao meu lado, um homem de meia-idade pede uma Coca-Cola para “ajudar a descer a comida e abrir um espacinho para mais”. Ainda incentiva o filho por volta dos 12 anos a vencer um embate com três corações de galinha que jazem no prato: “é coraçãozinho filho, você gosta. São os últimos”.
Eu e o vegetarianismo temos uma relação complicada. Mas hoje demos um passo para que o flerte vire, quem sabe, um relacionamento sério.
*ALEXANDRE ORRICO é editor-assistente de Mercado/Tec