Brasileiro vence prêmio científico na Inglaterra por combater testes em animais

Yuri Gonzaga

O cientista vegano brasileiro Róber Bachinski, 29, venceu na categoria “jovem pesquisador” da edição deste ano do prêmio britânico Lush pelos métodos alternativos aos testes em animais.

Com uma das pesquisas que realiza na UFF (Universidade Federal Fluminense), sobre o uso de métodos alternativos no ensino superior, o gaúcho recebeu 10 mil libras esterlinas (R$ 40 mil), ao lado de estudiosos da Alemanha, da Dinamarca, da Holanda e da Suécia.

Ativista pelos direitos dos animais, ele conta ao “Veg” que quase desistiu do curso de biologia porque tinha de realizar procedimentos em bichos. “O primeiro contato dos alunos [com métodos alternativos] é na faculdade”, diz.

“Muitos desistem para não ter de usar animais, mas decidi continuar e tentar conversar com os professores e solicitar objeção de consciência”, diz.

Bachinski com sua estatueta, uma lebre em cerâmica  (Divulgação)
Bachinski com sua estatueta, uma lebre em cerâmica (Divulgação)

“O projeto, então, visa identificar quais cursos usam animais no ensino no Brasil e trabalhar em colaboração com os professores para sugerir métodos alternativos, já que muitos professores continuam usando animais por não saberem como fazer aulas práticas sem eles.”

Nas demais categorias, que incluem conscientização do público, ciência, lobby e treinamento profissional, há contemplados de outros países, como Quênia e Taiwan, numa premiação total de 250 mil libras (R$ 1 milhão).

Bachinski é um dos responsáveis pelo grupo 1Rnet, de apoio a estudantes e professores pelos testes alternativos.

A cerimônia de premiação foi realizada em Londres no último dia 14. O prêmio é uma parceria entre a marca vegetariana de cosméticos Lush e a ONG britânica Ethic Consumer.

Barchinsky (dir.) ao lado do professor Thales Tréz, também brasileiro, que falou durante o evento (Divulgação)
Bachinski (dir.) ao lado do professor Thales Tréz, também brasileiro, que falou durante o evento (Divulgação)

Sua pesquisa de doutorado, que faz em parceria com a John Hopkins University (EUA) estuda métodos de estimativa de morte celular em modelos de mini-órgãos, sem ter de usar animais.

Para ele, cada vez mais há incentivo e projetos nos métodos alternativos. “Muito mudou nos últimos quatro anos no Brasil”, diz, citando a Renama (Rede Nacional de Métodos Alternativos), do Ministério da Ciência, e o Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos, da UFF e da Fiocruz, recentemente criados.

“O panorama nacional e internacional está bastante favorável, com o governo aberto para trabalhar com a academia e acelerar os avanços na área.”

VEGETARIANISMO

O pesquisador diz que teve contato com a pecuária num curso técnico em zootecnia, quando tinha 13 anos de idade. Depois disso, decidiu tornar-se vegetariano. Aos 16, abriu mão de todos os produtos não “cruelty-free” e entrou no veganismo.

Ele considera o boicote uma posição política ao alcance de todos, e tão importante quanto as pesquisas científicas.

“Parece não fazer diferença individualmente, mas, no mundo em que estamos, o consumidor é o diretor”, diz. “Quanto mais pessoas boicotarem produtos de origem animal e os testados em animais, mais as empresas se esforçarão nesse sentido.”

“Quando você consome um produto, está consumindo a ideia da empresa. Sempre podemos escolher promover boas ideias.”