Há cinco ex-vegetarianos para cada vegetariano nos EUA, diz pesquisa

Yuri Gonzaga

Um estudo realizado pelo HRC (Conselho de Pesquisa Humanitário, na sigla em inglês, ONG pró-direitos dos animais), aponta que a maior parte dos americanos que deixam de comer carne volta atrás na decisão: dos 12% dos entrevistados que já passaram ao menos por um período na dieta vegetariana, só 2% continuaram nela.

A pesquisa ouviu 11 mil residentes dos EUA com 17 anos ou mais em âmbito nacional, portanto é extrapolada para o país todo pelos realizadores, e foi divulgada na semana passada.

Há aproximadamente 6,4 milhões de vegetarianos ou veganos nos EUA, e que 31,9 milhões já adotaram a dieta –dos quais 11,8 milhões (37%) planejam deixar de comer carne de novo–, segundo o estudo.

Entre os que voltaram a comer carne, 58% alegaram que a principal motivação para a entrada no vegetarianismo era de saúde. Em comparação, os atuais vegetarianos ou veganos citam múltiplos motivos.

Outro contraste é a velocidade da transição: 65% dos ex-vegetarianos eliminaram a carne ou todo produto de origem animal em questão de dias ou de semanas, ante 53% dos atuais vegetarianos ou veganos que adotaram a dieta em tão curto período.

Imagem ilustrativa: hambúrguer de batata doce com abacate (lunchboxbunch.com)
Imagem ilustrativa: hambúrguer de batata doce com abacate (lunchboxbunch.com, receita em inglês)

Entre os que voltaram a comer carne, 63% disseram que o fato de ser uma exceção nos grupos de que eram parte era um fator que desagradava. Além disso, 58% disseram não ver o vegetarianismo como parte de sua identidade, e 84% afirmaram não ter envolvimento com qualquer agremiação em torno do tema –o que inclui comunidades on-line, como grupos no Facebook.

Cerca de metade (53%) foi vegetariana por menos de um ano; e 43% afirmaram que era difícil demais manter uma dieta “pura”.

‘PEGUE LEVE’

O relatório, em consonância com outro estudo realizado pelo HRC há dez ano, diz que os grupos pró-direitos dos animais devem tentar a abordagem do “incrementalismo” em torno da dieta, encorajando as pessoas a eliminar gradualmente a carne, os ovos, o leite e demais.

“Fazer com que as pessoas tomem a iniciativa de redirecionar sua vida rumo a uma mudança desejada por si só é um enorme feito.”

A campanha internacional Segunda Sem Carne, a principal bandeira da Sociedade Vegetariana Brasileira atualmente, é um exemplo desse “approach”.

Alguns ativistas criticam a campanha, como Gary Francione, que dizem que “nenhum sofrimento animal é justificável” e que o veganismo “é fácil, e todos podem se tornar veganos no mesmo dia, se quiserem.”

BRASIL

Em comparação, a única pesquisa realizada nacionalmente no Brasil sobre o tema, do Ibope em 2012, diz que 8% da população é vegetariana (seriam 16 milhões de vegetarianos brasileiros nos números de hoje).

Considerados os dois dados minimamente corretos, haveria muito mais vegetarianos brasileiros que nos EUA.

O estudo do Ibope não questionou à época quantos dos entrevistados eram ex-vegetarianos.

Pessoalmente, conheço muita gente que deixou de comer carne ao menos por algum tempo e desistiu pouco tempo depois. Um padrão que observo nessas pessoas –e que coincide com o que diz a pesquisa do HRC– é que elas fizeram uma transição súbida.

Eu sequer tinha a intenção de me tornar vegetariano a princípio. Tirei a carne vermelha por motivos ambientais e de paladar, passei um tempo comendo carnes brancas; e fiz o mesmo posteriormente com os ovos e com os derivados do leite, num processo que levou anos e que foi muito pouco custoso psicologicamente. Talvez isso tenha me ajudado, mesmo que sem querer.

Veja o infográfico da pesquisa abaixo (em inglês):

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