Comidas vegetarianas para uma viagem de bicicleta

Yuri Gonzaga

Com o perdão do sumiço (estou de férias!), volto para escrever um pouco sobre minha alimentação durante a viagem que fiz de bicicleta. Durou um pouquinho mais de duas semanas, entre o dia 7 e este domingo (22), e 1.722 km, com até 6.000 calorias gastas em um dia.

Não é a primeira vez que faço cicloturismo, mas nesse tipo de aventura sempre há a necessidade de comer em lugares com opções parcas e apelar para coisas que não seriam sequer a segunda opção numa rotina equilibrada. Tampouco me mantive 100% vegano durante o pedal, ora por necessidade, ora por opção. (Tenho uma fraqueza por pão de queijo, e esse é um alimento que está sempre ali, barato e disponível, em qualquer parada. Mas não vou além disso.)

Listo abaixo o que é amplamente disponível, ajuda na pedalada (ou outra atividade física intensa), barato, vegano e que comi ao longo da viagem.

Paçoca

Foto: vlolinha (Flickr.com/creativecommons)
Foto: vlolinha (Flickr.com/creativecommons)

Meu organismo (ou o de qualquer outro ser humano) nunca viu tanta paçoca. Em todo posto, restaurante, padaria ou supermercado o doce de amendoim em forma de rolha ou de paralelepípedo (quando assim chamado de gibi) tem bastante gordura –ainda que pouca gordura saturada– o que ajuda nos exercícios mais longos, muito açúcar, necessário para os momentos mais intensos, e proteína. Além disso, tem sal na composição, e o sódio ajuda na hidratação. Custa entre R$ 0,25 (se você tiver muita sorte) e R$ 3 (normalmente do tamanho de um tijolo e com até 400 kcal).

Batata doce

Foto: olemhebb (Flickr.com/creativecommons)
Foto: olemhebb (Flickr.com/creativecommons)

Tive a sorte de me hospedar em casas de conhecidos (e de desconhecidos, também) durante a viagem, o que permitiu que eu cozinhasse minhas batatas doces para carregar –dentro de um tupperware– no dia seguinte. Esse tubérculo santo tem carboidratos complexos que demoram mais para serem digeridos, além de amido simples, e são perfeitos para a atividade prolongada. Para esse tipo de viagem, quando a intensidade não é tão alta, são melhores que frutas ou outros alimentos açucarados. Posso dizer que nos dias em que levei batata doce tive um desempenho sensivelmente melhor. Ela é riquíssima em vitamina A, é barata e está em todo supermercado.

Bananinha e frutas secas

3990220874_e1221b4945_z
O processo de desidratação mantém a maior parte das propriedades nutricionais das frutas (foto: Ryan McFarland/Flickr.com/creativecommons)

 

Outro item que não paro de comer, até ficar enfastiado. Como não dá muito certo levar bananas durante a viagem (elas amadurecem rápido demais e podem ser esmagadas na bagagem), as versões em doce ou desidratada são perfeitas para o pedal. Com potássio, necessário para equilibrar os minerais do corpo e evitar assim as cãibras, e muito açúcar nas formas de sacarose e frutose, dão um gás principalmente nas horas mais intensas, como as subidas.

Bisnaguinha

Foto: Reprodução/VirtualSaúde.com.br
Foto: Reprodução/VirtualSaúde.com.br

Com bastante açúcar e carboidratos simples, são uma boa opção para uma parada do meio do dia para comer algo diferente dos doces de durante a atividade (não tenho o costume de almoçar pesado, e deixo a comida com mais “sustância” para depois. Como pura, mesmo, mas é uma boa ideia comprar uma geleia ou margarina vegetal para passar, por exemplo. A Bisnaguito, da Pullman, é a única vegana (que eu saiba). Outros pães brancos têm função semelhante, mas são menos lúdicos.

Arroz e biscoito de arroz

Arroz caramelizado do tipo okoshi (Foto: Tom Wisdon/Flickr.com/creativecommons)
Arroz caramelizado do tipo okoshi (Foto: Tom Wisdon/Flickr.com/creativecommons)

Não acho uma boa ideia comer alimentos pesados durante a pedalada (comi bastante feijão no almoço de um dos dias e sofri com a pressão baixa logo que voltei para a estrada), mas arroz é ótimo para um almoço leve, que pode ter também tubérculos e um pouco de macarrão. Evito muita salada para deixar espaço para coisas mais calóricas. Outra coisa que gosto são as bolachas de arroz, tanto na versão japonesa (caramelizada) quanto na sem sabor (a Camil faz um mini-biscoito que é excelente e, ainda que não tão disponível, é barato, cerca de R$ 5).

[extra] Suplementos

Foto: Katherine Lim/Flickr.com/creativecommons
Foto: Katherine Lim/Flickr.com/creativecommons

Levei suplementos proteicos (aminoácidos BCAA e glutamina e proteína isolada de ervilha) e polivitamínicos para ajudar a repor o perdido durante os pedais. Especificamente o BCAA, sigla para aminoácidos de cadeia ramificada, é bom para evitar catabolismo muscular, quando o corpo “come” a própria musculatura se não há carboidratos disponíveis. Levei também maltodextrina, fonte rapidíssima de energia, nas formas em pó e em gel. Uso as marcas Alri (comprada nos EUA), VeganWay (empresa brasileira que me enviou uma proteína de ervilha, que tem ótimo sabor, para amostra), Clif e GU (respectivamente gel e pó de maltodextrina).

Um “suplemento” que eu mesmo fiz foi uma barra de proteína caseira, mas só pude comer nos primeiros dias (porque acabou), feita à base de proteína de soja, aveia, farinha de alfarroba, açúcar de coco, cacau em pó, canela e extrato de baunilha (só misturo tudo em quantidades intuitivas e ponho no forno por uma meia hora).

Um “doping” frequente que uso é cafeína. Tomo muito café, que além do estimulante tem antioxidantes e energético (o Red Bull é vegano; os demais não, ao menos explicitamente), que tem vitaminas do complexo B (inclusive a famigerada B12). Tento não tomar nas primeiras horas do dia para evitar ou adiar o chamado rebote (ou “crash”), uma queda energética que acaba por demandar mais cafeína, num exagero.

E você, leitor, o que recomenda para uma viagem a pé, correndo ou de bicicleta?

Para quem se interessar, fotos da viagem estão na minha conta no Instagram; os dias pedalados estão no meu perfil no Strava