Evitar só a carne é ‘covarde e injusto’, diz ativista vegano em artigo

Yuri Gonzaga

Criador do maior portal sobre veganismo no Brasil, o Vista-se, Fabio Chaves fez em seu último artigo no site “R7” críticas aos vegetarianos não veganos –o que inclui quem não come carne, mas não se abstém de leite ou de ovos.

“Há pessoas que  utilizam o tal do ‘caminho do meio’ como uma muleta para justificar sua falta de capacidade de realização pessoal ou mesmo sua falta de vontade de dar um passo para fora da zona de conforto”, disse. “Falar em caminho do meio enquanto bilhões de animais estão sendo assassinados, acho covarde e injusto.”

Queijos veganos da americana Miyoko's Creamery (Divulgação)
Queijos veganos da americana Miyoko’s Creamery (Divulgação)

O estopim teria sido a opinião de Luís Sérgio Alvarez de Rose, conhecido também como Mestre DeRose de ioga, que em um texto recomenda o consumo de leite orgânico e seguir o caminho do meio mencionado por Chaves, evitando um suposto “radicalismo” dos veganos.

“A questão não é ficarmos desnutridos ou desajustados socialmente por não consumir laticínios ou ovos. A questão é consumir menos laticínios, menos ovos e escolher bons fornecedores”, escreveu DeRose. “Vamos ser menos fanáticos e mais efetivos.”

Lembrando que veganos não só se abstêm de comida que tenha ingredientes de origem animal (além de todo tipo de carne, laticínios, ovos, mel, gelatina e colágeno, alguns corantes), mas também boicota couro e peles, remédios e cosméticos testados em animais e empresas que sabidamente desrespeitam animais.

Chaves critica as empresas da indústria da carne e de laticínios que afirmam zelar pelo “bem-estar animal”.

Em todas as empresas orgânicas/verdes/boazinhas/irreverentes/ coloridas os animais têm um só destino: a morte. Uns são mortos mais rápido, como aqueles criados para corte, carne. Outros são explorados durante toda a vida para ovos e laticínios e depois são vendidos como carne barata, normalmente utilizada em hambúrgueres. (…) Ser vegano não é ser fanático, é ser justo.

Em um comentário no Vista-se, DeRose (que frequentemente prega a favor do vegetarianismo) se defendeu ao dizer que seu texto não sugeria que veganos são fanáticos (o que infelizmente aconteceu, de fato). Ele menciona outro texto, em que teria dito que “o veganismo é o sistema moralmente mais correto”.

Uma pizza polêmica (Divulgação/Instagram.com/baraonatural)
Uma pizza polêmica (Divulgação/Instagram.com/baraonatural)

Alguns grupos veganos recomendam a abordagem gradual em relação ao veganismo, caso da Peta e da HRC, recomendando o lactovegetarianismo como um passo rumo à abstenção de ingredientes de origem animal (mas não o lactovegetarianismo como fim). É também o mote da campanha Segunda Sem Carne.

Com a coluna, intitulada “Caminho do meio, meu ovo”, Chaves iguala por sua vez o ovolactovegetariano e o onívoro.

O que importa em minha opinião é o boicote e a tentativa de transformar a indústria alimentícia, a fim de (no meu caso) minimizar e até reverter danos ambientais.

Dessa maneira, evitar carnes no geral ou carne vermelha (por mais melindroso e entranhado em produtos e subprodutos seja o processo de produção) só pode ser benéfico.

Nesse sentido, saúdo o ovolactovegetariano –queria tentar soar menos demagogo aqui, desculpe. Ou quem já tenha dado um passo, em especial quem se vale dele para se alçar ao veganismo –considere isso moralmente correto ou não.

Em um triste exemplo de debate em que o tal “caminho do meio” veio à tona, membros da SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) e sócios dos excelentes restaurantes da rede Barão Natural em São Paulo, foram detratados publicamente por integrantes dos grupos Camaleão e Veddas.

Isso porque a unidade do centro do Barão Natural vende, além de pizzas veganas, opções com queijo, e que seus donos estariam tentando mascarar o fato em entrevistas à imprensa.

Atualização: George Guimarães, presidente do Veddas (sigla para Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade) e autor dos comentários negativos mencionados, contatou o Veg e disse que não falava em nome da ONG que preside.

Voltando desse lamentável parêntesis, seria interessante que o leitor adicionasse o que pensa aqui.