Qual o futuro da comida vegana?
O veganismo tem somado cada vez mais adeptos ao redor do mundo. Uma indústria que já fatura milhões no Brasil, com um mercado consumidor cada vez maior e mais exigente.
Mas o que esperar do futuro da comida vegana?
Para chegar até aqui, passamos por diversas ondas: a soja, o seitan, o grão-de-bico e, mais recentemente, as castanhas. Tudo isso foi, ao longo do tempo, se revezando como a matéria-prima mais popular nas gôndolas.
O consumo é o verdadeiro ponto de mudança. Não há argumento sobre hábitos alimentares que seja mais poderoso do que uma prateleira cheia de opções no mercado da esquina. A praticidade é a chave.
Mas ter essa facilidade como norte levou a um exagero que já dá sinais de cansaço: a entediante junkie food vegana. Onde quer que se vá, proliferam hamburguerias com opções veg no cardápio, que incluem sempre um mergulho demorado no óleo quente.
Não se cresce em opções, mas em volume. Dezenas de hamburguerias: soja e grão-de-bico. Para o PF, o tradicional bifinho de soja. Buffet? Soja moída refogada, lasanha de carne de soja, almôndega de carne de soja, feijoada vegetariana com berinjela e linguiça, advinha, de soja.
Tudo isso surgiu da melhor das intenções. Uma geração inteira de veganos cresceu passando vontade. Enquanto todo mundo se esbaldava em lanchonetes, sorveterias e docerias, nos contentávamos com pão com salada. Enfim vencemos.
Mas exageramos tanto que é perfeitamente possível ser vegano e ter uma alimentação horrível, pobre em nutrientes e recheada de tudo o que deveríamos evitar.
Também proliferou a comida mal feita. A vibe do “Do It Yourself” que alçou vegetarianos “das antigas” a empreendedores, e a ânsia por atender um público cada vez maior, escorrega no amadorismo e improviso, que mais afasta e reforça os estereótipos sobre veganismo, do que aproxima novos adeptos.
Mas nem tudo é negativo. Sejamos justos.
Os pontos fora da curva são notáveis e merecem sempre destaque. Esse blog se encarrega disso, por exemplo. Restaurantes e lanchonetes (e até hamburguerias) que se empenham em criar, logo ganham um público cativo e nunca vêem o salão vazio. E merecem.
O movimento por uma alimentação mais purista e a reconexão com o alimento, que pulsa em iniciativas como hortas urbanas, PANCs e no ativismo do movimento ecopunk, também são um sopro de novidade.
Enchem os olhos, ainda que ofuscados pelo elitismo típico da alta gastronomia, os chefs que se empenham em estudos mais profundos atrás de receitas originais e prazerosas.
Aliás, é desse mercado phyno e da onda fitness glútenfóbica que surge um dos futuros do veganismo: o termo plant-based. Eu tenho uma birra especial por ele.
Em uma jogada de marketing para aproximar o público carnívoro que se preocupa com a saúde e dorme com culpa pela questão ambiental, chefs evitam o termo veganismo e propõe pratos “plant-based”. Tem funcionado.
Num outro flanco, a indústria também se mobiliza. Gigantes como Danone, Unilever e concorrentes fazem suas apostas no público vegano.
Nos EUA, nasce uma estrela. A Beyond Meat surgiu como uma startup que se propunha a fazer o hambúrguer mais similar o possível com a carne bovina. Com aportes milionários de figuras como Bill Gates, Leonardo de Caprio e da Tyson Foods (uma das maiores empresas de carne dos EUA), a marca conseguiu arrecadar US$ 90 milhões em rodadas de investimentos.
Os burguers da marca –sem soja, sem glúten e sem transgênicos– já estão nas prateleiras de 5.000 supermercados e 4.000 restaurantes do país. O próximo passo é lançar ações na Bolsa de Nova York e recolher mais alguns milhões.
Esse talvez seja o melhor exemplo do futuro do veganismo: chegar ao grande público com uma premissa saudável e mimetizando a carne de animais. O veganismo não é mais ativismo, é uma opção, uma nova rotina.
Vale a pergunta: Se o futuro é industrial, multimilionário e de posse das grandes marcas, o que restará para os pequenos empreendedores, que deram o start nessa revolução alimentar? É preciso se reinventar para seguir. A lógica do “melhor isso do que nada” acabou e só os criativos sobreviverão.