Grupo britânico demanda reduzir carne para frear aquecimento global

Yuri Gonzaga

O grupo Chatham House, fundado em 1920 e eleito o mais influente “think tank” do mundo só atrás da Brookings Institution, emitiu um relatório em que alerta para a urgência de reduzir o consumo de carne a fim de frear o aquecimento global e demanda intervenção governamental no assunto.

A questão é oportuna, já que a reunião COP21 teve seu início nesta segunda (30) em Paris –sem mencionar que a temperatura do planeta é a mais alta da história.

“Aumentar a conscientização é o primeiro passo, não a solução”, escrevem os autores do relatório Laura Wellesley, Catherine Happer e Antony Froggatt (veja resumo em português).

O Grand Central Market, em Los Angeles (Reprodução/Chatham House/Getty Images)
O Grand Central Market, em Los Angeles (Reprodução/Chatham House/Getty Images)

O setor da pecuária já é responsável ao equivalente a todas as emissões de transporte somadas no mundo todo, escrevem, também com 15% do total. “Uma mudança para padrões mais saudáveis poderia reduzir em até um quarto as nossas emissões hoje.”

O maior problema, dizem, é que há uma tendência de rápida aceleração no consumo de carne e, até agora, a população não se mostra propensa a fazer uma mudança na dieta “apenas” para ajudar a humanidade a continuar neste planeta.

Além disso, em países desenvolvidos, a população “está comendo mais do que o dobro da quantidade de carne que é tida como saudável por especialistas”. “O consumo excessivo está contribuindo para o crescimento da obesidade e de doenças como câncer e diabetes do tipo 2.”

Se nada for feito, a demanda por carne vai aumentar 75% até 2050, escreve o grupo. “Os governos estão perdendo uma oportunidade-chave para mitigar a questão climática, presos em um ciclo de inércia.”

Apesar da evidência clara para que tomem medidas em relação ao consumo de carne, os governos temem a repercussão da intervenção, enquanto a baixa consciência do público sobre o assunto significa que [os governantes] sofram pouca pressão para intervir

Pontos principais levantados pelo grupo:

  • Nosso apetite por carne é um fator majoritário da mudança climática
  • Reduzir o consumo de carne será crítico para manter o aquecimento global abaixo do nível alarmante de dois graus Celsius
  • A consciência do público sobre a questão é baixa, e a carne permanece fora da agenda de políticas
  • Governos precisam liderar as mudanças de atitude e comportamento

A questão da pecuária não é levada em consideração sequer pelos grupos ambientalistas, como mostra o documentário “Cowspiracy”, agora no Netflix.

Óbvio que não só a carne, mas todo o setor pecuário –com suas megalômanas demanda por água, ração e área, as emissões de gases mais danosos que o dióxido de carbono, a contaminação do solo e da água, o uso de fertilizantes e medicamentos– que causam os problemas.

A ONU e a Academia Nacional de Ciências dos EUA também já se pronunciaram repetidamente sobre o assunto.

É triste e urgente. Mas é mais um motivo para tornar-se vegetariano.

Via Vista-se